Alguém precisa mandar (2)
Eloi Zanetti
“Prefiro alguém que me diga claramente o que tenho a fazer do que
aquele que me dá sugestões indiretas. Quero ordens assim: Mário, faça tal
coisa! Mário vá para a direita! Mário, vire à esquerda!’ Gosto de que me
mandem, prefiro isso a ouvir insinuações pouco eficientes.” – comentou um
amigo em mesa de bar, causando surpresa geral. E ele tem razão, pois uma
ordem direta, incisiva e clara poupa tempo, facilita a compreensão, define
responsabilidades e o prazo de execução.
O filósofo Sócrates dizia que existem as pessoas que nasceram para
mandar e outras para obedecer. Se você é daqueles que nasceu para mandar
não perca tempo, nem tenha medo: assuma o comando e mande, pois estará
fazendo um favor para aqueles que nasceram para obedecer. Eles preferem
receber uma ordem a ter de pensar sobre as coisas a serem feitas.
As regras das boas maneiras confundem as noções de autoridade.
Pensamos que o mando direto não é polido e que temos de pedir quase
implorando pela a execução das tarefas. Nada mais falso: a maior parte das
pessoas precisa de orientação e comando bem explícito. Por isso, não peça,
mande. O que não o desobriga do pedir com bons modos, do faça-me-ofavor
e do agradecimento depois da tarefa feita.
Uma vez dada a ordem cuide para que ela seja cumprida; caso
contrário, perderá a liderança e a força de comando. Gente do tipo
malmandada ou “lombo-liso” existe em todos os lugares. Se precisar, chame
a atenção em particular e dê mais uma chance, mas se ela não se corrigir,
“mande” embora. Conheci um empresário que dizia: “Quando você pensa
em despedir alguém, está no mínimo dois meses atrasado”.
Participo de muitos debates e reuniões e vejo-as se perderem, saírem
dos seus objetivos, pelo fato de, principalmente entre gente que não se
conhece, ficar aquele ar de “quem vai coordenar isto?” Se você observar que
ninguém é o comandante natural, assuma o comando e faça um favor para
todos: coordene a reunião.
Nos dias atuais, a carência da autoridade e do mando está nos levando
a situações caóticas. Faltam comandos disciplinares nas escolas, na política,
nas empresas e principalmente nas famílias. Pais precisam comandar e filhos
obedecer; tudo dentro do bom senso.
É claro, outros fatores entram em conta: autoridade oficial, moral,
liderança, experiência, credibilidade e uma característica que esquecemos
sempre – sabedoria e astúcia no comando. Conta a história que o imperador
romano Augusto estava prestes a enfrentar uma rebelião entre os seus
comandantes.
Ele chegou à barraca onde todos estavam reunidos, ouviu de
fora o burburinho, entrou e imediatamente disse em voz alta e imperativa:
“Todos sentados!” Os generais sentaram-se e ele coordenou a reunião em
bom termo. Mais tarde, explicou: “Em pé eles teriam mais força de conjunto,
sentados eu os fragmentei.” Isto é astúcia de comando.
Mas cuidado: comandar é diferente de querer controlar os outros.
Pessoas podem ser mandadas, nunca controladas. Isto está fora do
seu domínio e se tentar pode se aborrecer muito. É aqui que muita gente
confunde a autoridade do mando com a intervenção na vida alheia e se dá
mal como chefe.
O maior de todos os mandos é aquele que a gente faz sobre nós
mesmos. Principalmente o exercício da autoridade sobre as opiniões que
emitimos. Certo é o ditado: sou dono do meu silêncio e escravo das minhas
palavras.
Eloi Zanetti – eloizanetti@gmail.com