Como surgiu a Colônia Witmarsum nos Campos Gerais

Em 1951 os menonitas compraram a Fazenda Cancela, nos Campos Gerais do Paraná, no município de Palmeira. Conheça esta história:
Origens menonitas na Europa
O movimento menonita nasceu no século XVI, no contexto da Reforma Protestante. Inspirados pelo líder religioso Menno Simons, os menonitas formaram comunidades anabatistas com princípios de simplicidade, fé comunitária, pacifismo e trabalho coletivo. Perseguidos em várias regiões da Europa Central, migraram gradualmente para áreas mais tolerantes, como os Países Baixos, o norte da Alemanha e a Prússia.
A agricultura foi desde o início sua marca de identidade. Nessas comunidades, desenvolveram técnicas avançadas de drenagem e cultivo, sempre associadas ao forte senso de solidariedade.
Da Prússia ao Império Russo — e o êxodo
No século XVIII, por convite da imperatriz Catarina, a Grande, um grande contingente de menonitas se instalou no sul do Império Russo, sobretudo na atual Ucrânia. Ali prosperaram como agricultores e artesãos, preservando sua autonomia religiosa e cultural.
No entanto, a partir do final do século XIX e sobretudo com a Revolução Russa de 1917, os privilégios desapareceram. Colônias foram estatizadas, líderes perseguidos e famílias inteiras sofreram deportações. Esse contexto levou ao êxodo para outros países, incluindo Canadá, Estados Unidos e, a partir de 1930, o Brasil.
Primeira etapa brasileira em Santa Catarina
O primeiro grupo de menonitas chegou ao Brasil em 1930, estabelecendo-se em Santa Catarina. Vieram em busca de paz e terra fértil, trazendo consigo a língua alemã, a fé comunitária e o modelo de organização agrícola. Embora tenham conseguido se estabilizar, logo perceberam que precisavam de um espaço maior e mais adequado para desenvolver sua visão comunitária.
Esta foto é um registro de Witmarsum nos anos 1950. O quadro é do pintor Horst Schneeper. Com financiamento de menonitas da América do Norte, foi possível comprar a Fazenda Cancela. A localidade, nos campos gerais, tem hoje cerca de 2000 moradores, que produzem principalmente leite. Mas agora está se tornando também um ponto de turismo e comércio aos finais de semana.
A fundação da Colônia Witmarsum no Paraná (1951)
Em 1951, líderes menonitas adquiriram a antiga Fazenda Cancela, nos Campos Gerais do Paraná, no município de Palmeira. O local, com 7.800 hectares, oferecia condições ideais para a agricultura e a criação de gado leiteiro. Assim nasceu a Colônia Witmarsum, cujo nome remete à região de origem de Menno Simons, na Frísia (Países Baixos).
O início foi marcado por muito esforço: construção de casas, escola, igreja, estradas e organização comunitária. A vida era pautada pela disciplina, pela cooperação e pela preservação da identidade cultural.
A força do cooperativismo
Em 1952, foi criada a Cooperativa Agroindustrial Witmarsum, base do desenvolvimento econômico da colônia. Especializada na produção de leite e derivados, logo se destacou pela qualidade. A cooperativa ampliou-se com o tempo, agregando avicultura, indústria de alimentos e serviços.
O sistema cooperativo garantiu estabilidade financeira, divisão justa dos resultados e reinvestimento em educação, infraestrutura e saúde, consolidando Witmarsum como modelo de comunidade agrícola organizada.
Educação, cultura e memória
Além da economia, os menonitas sempre valorizaram fortemente a educação e a preservação da cultura. Em Witmarsum, escolas foram fundadas desde os primeiros anos, garantindo ensino bilíngue e sólida formação.
A herança cultural é cultivada no Museu Histórico de Witmarsum (Heimat Museum), instalado na antiga sede da Fazenda Cancela. O espaço preserva documentos, móveis e objetos trazidos da Europa, além de contar a saga da migração e da vida comunitária.
Outro patrimônio notável é a religiosidade: as igrejas menonitas mantêm viva a tradição da fé comunitária, com cultos simples e grande valorização da música coral.
O patrimônio natural
Além da cultura, a região abriga as famosas Estrias Glaciais de Witmarsum, formações rochosas que guardam marcas da glaciação ocorrida há 280 milhões de anos. Este patrimônio geológico é um atrativo a mais para visitantes e pesquisadores.
A virada para o turismo
A partir dos anos 2000, a colônia passou a investir no turismo como forma de diversificação econômica. O modelo foi o turismo rural de experiência, em que os visitantes vivenciam a vida no campo, conhecem a história da imigração e degustam a gastronomia típica germânica.
Restaurantes oferecem pratos tradicionais, cafés coloniais encantam pela fartura, lojas comercializam queijos e embutidos produzidos localmente e ciclistas percorrem as estradas rurais da região. A tranquilidade e a beleza natural dos Campos Gerais completam o cenário.
Tradição e futuro
Atualmente, Witmarsum é reconhecida como uma das colônias de imigrantes mais bem-sucedidas do Brasil. Mantém sua base agrícola sólida—com destaque para os queijos artesanais de qualidade internacional—, mas também se projetou como destino turístico de fim de semana, especialmente para visitantes de Curitiba e do Sul do país.
A prosperidade da colônia pode ser explicada pela combinação de fatores:
-
Trabalho comunitário e cooperativismo;
-
Valorização da educação e da fé;
-
Preservação da cultura e da memória;
-
Capacidade de adaptação, primeiro no campo, agora no turismo.