Para Paulo Sidnei Ferraz, a retirada da malha ferroviária sem novo uso representa desperdício e risco de ocupações irregulares
A proposta de retirada dos trilhos da malha ferroviária que corta a cidade de Curitiba volta a gerar debate entre urbanistas e autoridades. Para o engenheiro Paulo Sidnei Ferraz, que atuou por 45 anos na área ferroviária, o momento é decisivo para definir o futuro dessa estrutura — e representa uma oportunidade de transformar a faixa atual em um sistema moderno de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), de baixo custo e implantação rápida.
“Quando foi construída a malha ferroviária em Curitiba, existiam poucas ruas na capital cruzadas pelos trilhos. Com o crescimento da cidade, o número de vias aumentou, o volume de cargas se ampliou e os trens ficaram mais longos”, recorda Ferraz. “Esses fatores geraram problemas, como a baixa velocidade dos trens e o incômodo dos moradores com o ruído.”
Segundo o engenheiro, a situação se agravou após a privatização da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), quando houve degradação da sinalização e redução de equipes de manutenção. “A função do auxiliar de maquinista foi extinta, as condições da via e do material rodante pioraram e a segurança das passagens de nível foi comprometida”, afirma.
Ferraz considera necessária a transferência do tráfego de cargas para fora das áreas urbanas, especialmente diante das discussões atuais sobre a renovação ou novo leilão da Malha Ferroviária Sul. No entanto, ele faz um alerta: a simples retirada dos trilhos seria um equívoco estratégico.
“Defendo a permanência dos trilhos para implantação de um sistema de VLTs de baixo custo e operação imediata, que ajudaria a desafogar o tráfego rodoviário. Um transporte regular, silencioso, confortável e com tarifa acessível criaria uma demanda crescente”, explica.
O engenheiro destaca que composições menores e mais rápidas interfeririam menos nos cruzamentos e poderiam ser o embrião de uma segunda fase de modernização. “Enquanto a demanda cresce, seria possível construir gradualmente uma via elevada nos trechos mais densos, substituindo a linha atual. Sob essa estrutura, poderiam ser implantados equipamentos públicos e um projeto paisagístico, integrando a ferrovia ao tecido urbano.”
Ferraz também chama atenção para outro problema que costuma acompanhar a retirada de trilhos: as ocupações irregulares nas faixas liberadas.
“É comum que, logo após a retirada, ocorram invasões dessas áreas. Além do desperdício de recursos públicos em eliminar algo que poderia ser aproveitado, há esse risco imediato de desordem urbana”, alerta.
Com mais de quatro décadas de experiência no setor ferroviário, Paulo Sidnei Ferraz reforça que a capital paranaense deveria seguir o exemplo de cidades que transformaram antigas linhas de trem em eixos modernos de transporte urbano.
“O momento é oportuno. Aproveitar os trilhos existentes seria uma forma inteligente de unir memória, mobilidade e sustentabilidade”, conclui.