Gazeta do Povo fica sem o maior colunista político do Paraná
Justamente no dia de seu aniversário de 99 anos, o jornal “Gazeta do Povo” ficou sem o seu colunista mais importante. Em sua última coluna, neste domingo, Celso Nascimento despediu-se relembrando a sua trajetória de 52 anos na empresa.
Celso Nascimento foi o chefe mais correto e humano que tive entre os anos 1980 e 1990 na RPC. E o nosso professor de jornalismo na redação. Foi também uma grande surpresa positiva na função de colunista político da Gazeta do Povo. Quem tem todo este conhecimento, honestidade e coragem, vai saber fazer do seu próprio site, Contraponto , um sucesso ainda maior, e a principal fonte de informação política do Paraná.
Leia abaixo o comentário de Celso em seu próprio site:
Era uma vez a Gazeta do Povo
A edição semanal impressa da Gazeta do Povo deste três de fevereiro de 2018 contém duas marcas: é a data em que o jornal completa 99 anos de fundação e em que comunica que seu mais antigo jornalista em atividade deixa seus quadros. Neste último caso, trata-se de mim, Celso Nascimento, editor deste Contraponto, que há 52 anos rondava por lá, tempo que ultrapassa a metade da vida do jornal e dois terços da minha.
Foi um rio que passou em minha vida. Não sujei as águas em que nadei. Fiz a travessia, desde “foca” estagiário a partir de 1966 – mesmo ano em que peguei o diploma de Jornalismo na UFPR – a repórter, Chefe de Reportagem, Chefe de Redação, editorialista e, por fim, colunista político. Passei também por outros veículos do grupo, como o Diário da Tarde e a TV Paranaense Canal 12, dos quais fui respectivamente editor e Chefe de Reportagem por largos e bons períodos.
Fiz parte dos tempos gloriosos da Gazeta do Povo em que era dirigida por seu maior publisher, o saudoso dr. Francisco Cunha Pereira Filho. Aos domingos, 200 mil exemplares de 300 páginas chegavam às bancas para se esgotarem em poucas horas. Quinto maior diário do país, a Gazeta não era simplesmente um jornal, era uma instituição paranaense.
Foram tempos de aprendizado, de acúmulo de experiência e de exercício profissional que me exigiram bravura, coragem e, claro, também submissão à linha editorial definida por meus superiores, nunca, porém, me afastando das lições que aprendi em casa – honestidade, sinceridade, senso de justiça. Qualidades que, nascidas do convívio e no exemplo familiar, procurei empregá-las na vida profissional, o que exigiu de mim sobretudo doses cavalares de ousadia e de desapego a vantagens, bens materiais, vanglória.
O fim da carreira na Gazeta do Povo, é evidente, não me alegra, especialmente pelo fato de que não fui eu que o determinei, mas sim forças que para mim me soam ainda incompreensíveis. O que não significa mágoa nem motivo para depressão. Pelo contrário, apenas o sentimento de missão (bem) cumprida e inspiração para enfrentar novos desafios.
Continuo jornalista como sempre fui, agora exclusivamente neste Contraponto – espaço que com muito orgulho divido com o brilhantismo invejável da colega Ruth Bolognese.
Tocaremos o nosso barco, com o mesmo destemor, independência, descompromisso com governos, grupos políticos ou econômicos, atributos que marcaram nossas vidas de remadores contra a corrente. E com a esperança de podermos contar com o respeito, com a admiração, com as críticas e mesmo – por que não? – com o desgosto que possam nos devotar os cada vez mais numerosos seguidores deste Contraponto.
Última coluna na edição impressa de domingo.