Janeiro teve a maior área com alertas de desmatamento da série histórica
De acordo com dados do Deter/Inpe, a área com alertas de desmatamento chegou a 430 km² em janeiro. Desmatamento afeta o clima e a imagem do Brasil
Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, reafirmam que o desmatamento na maior floresta tropical do planeta está fora de controle. Entre os dias 1 e 31 de janeiro, os alertas apontam para um total de 430 km² desmatados. Isso representa um aumento de mais de 418% em relação a janeiro de 2021, ainda que este ano tenha chovido mais na região.
Foi também a maior área com alertas para o mês desde 2016, quando foram iniciadas as medições do Deter-B. Os alertas de desmatamento se concentram principalmente nos estados de Mato Grosso, Rondônia e Pará.
“Os estímulos para o desmatamento têm sido tão evidentes que mesmo em janeiro, quando o desmatamento costuma ser mais baixo por conta do período chuvoso na região amazônica, a destruição disparou. De fato, esse é um momento de ouro para quem desmata e/ou rouba terras públicas, já que existe uma falta proposital de fiscalização ambiental e expectativa de alteração na legislação para regularizar a invasão de terras públicas”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Segundo análise do Greenpeace Brasil, 22,5% da área com alertas de desmatamento entre 1 e 21 de janeiro deste ano se concentrou nas florestas públicas não destinadas, alvo frequente de grilagem de terras. Ao mesmo tempo, o Senado discute duas propostas preocupantes (PL 2.633/20 e PL 510/21) que visam regularizar a grilagem de terras.
A floresta e o clima
O desmatamento no Brasil é prejudicial ao clima e à economia brasileira. “Quanto mais desmatamento, maior é a contribuição do país com a ocorrência de extremos climáticos, a exemplo das fortes chuvas que afetam drasticamente as vidas de milhares de brasileiros. Além disso, o descaso do governo com as florestas e com o clima, estampados nos dados de janeiro, vão na contramão de sinalizações que mercados consumidores e entidades internacionais têm dado, exigindo cada vez mais o controle do desmatamento”, complementa Mazzetti.
Em relatório publicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) em 2021, os pesquisadores ressaltaram ser inequívoca a influência humana sobre o superaquecimento do planeta. Entre 2011 e 2020, a média da temperatura global já atingiu 1.09°C acima dos níveis pré-industriais. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima, 46% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa em 2020 vieram da mudança do uso do solo – desmatamento.
O IPCC aponta que temperaturas extremas podem ser até nove vezes mais frequentes já na próxima década. Ou seja: não há nada de “normal” no que estamos vivendo.
Os níveis de desmatamento do Brasil também colocam o país em uma posição cada vez mais difícil diante da comunidade internacional. A União Europeia, por exemplo, tem discutido uma legislação que proíbe a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas, ao passo que a falta de medidas para conter o desmatamento pode ser utilizada para barrar a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). -Greenpeace