País tem quase 40% da população em municípios sem salas de cinema
O acesso aos cinemas ainda é restrito para grande parte da população brasileira. Em 2018, 39,9% das pessoas moravam em municípios sem, ao menos, um cinema. A falta de acesso potencial a esse e a outros equipamentos culturais, como museus e teatros, varia por sexo, cor ou raça, grupo de idade e nível de instrução, como aponta o Sistema de Informações e Indicadores Culturais, divulgado pelo IBGE.
“Isso é uma barreira de acesso potencial. Outras barreiras também podem agir, como o preço das entradas ou mesmo a distância física e a inexistência de transporte público para o acesso, mas é uma mensagem de dificuldade”, explica o pesquisador do IBGE Leonardo Athias.
Pessoas sem instrução ou que não completaram o ensino fundamental tinham menos acesso a museus, teatros, cinemas, rádios locais e provedores de internet do que pessoas com maior nível de escolaridade. Quase metade das pessoas com escolaridade mais baixa vivia em municípios que não têm cinema, 40,3% em municípios sem museu e 39,7% em cidades sem teatro.
“Você tem uma dupla desigualdade. Entendemos que há uma restrição de acesso à educação e ao mesmo tempo coincide com municípios que têm menos estrutura, menos presença de equipamentos culturais. Vemos isso pela distribuição regional, pelos estados do Norte e Nordeste, que têm menos estrutura de equipamentos, menos capilaridade, menores níveis socioeconômicos e você tem uma soma de desvantagens”, declara Athias.
Em relação aos grupos de idade, crianças e adolescentes ilustravam o pior cenário: 43,8% das pessoas até 14 anos viviam em municípios sem cinema e 35,9% delas viviam em municípios sem museu. As crianças e adolescentes do Maranhão eram as que tinham menos acesso potencial a museu (23,6%), a teatros e sala de espetáculos (30,8%) e a cinema (19,6%).
“Tem toda uma literatura que explica a importância do acesso a museus na infância. É o momento de você gerar o interesse por esse tipo de equipamento cultural, que é um local de transmissão de conhecimento e de familiarização com as ciências”, afirma o pesquisador.
O estudo também mostra que a população preta ou parda tinha menor acesso potencial a esses equipamentos culturais. Enquanto 44% dos pretos ou pardos moravam em municípios sem cinema, esse número em relação aos brancos era de 34,8%.
Cinema resiste aos serviços de streaming
Enquanto livrarias, jornais impressos e lojas de discos diminuíram sua presença no Brasil, os cinemas fizeram o caminho inverso: sua presença nos municípios passou de 8,7% para 10% nos últimos 12 anos.
O pesquisador do IBGE comenta que, diferentemente do que era esperado, o cinema não desapareceu por causa do maior acesso à internet e, consequentemente, dos serviços de streaming.
“Um ponto interessante da pesquisa é a indicação de que eles não são concorrentes diretos. Quem gosta de cinema entende que é uma experiência diferente de assistir a um filme em casa”, explica Athias.
Também quando comparado 2006 a 2018, a presença das livrarias nos municípios brasileiros diminuiu 12,3 pontos percentuais, chegando a 17,7%. As videolocadoras acompanharam a tendência, tendo sua presença diminuída em 59 pontos percentuais.
Diferença salarial entre homens e mulheres na cultura é maior que nos demais setores
Apesar de terem se tornado maioria entre os trabalhadores do setor cultural, as mulheres continuavam ganhando menos do que os homens. De 2014 para 2018, a participação feminina passou de 47,6% para 50,5%. No último ano, o rendimento das mulheres foi de R$ 1.805, e dos homens foi R$ 2.586, uma diferença de R$ 781, enquanto em todos os setores, essa disparidade era de R$ 508.
“Essa diferença salarial está relacionada ao fato do setor cultural ter mais profissionais com nível superior e a gente sabe, pelos estudos de gênero, que a desigualdade nesse nível de escolaridade é maior do que em outros níveis”, declara o pesquisador.
IBGE