Vegetarianismo: Entenda esse estilo de vida
A dieta vegetariana difere da dieta onívora, em que a base da alimentação são os vegetais e animais, em vários aspectos. De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o vegetariano pode ou não ingerir alimentos derivados de animais. Na dieta vegetariana, há subdivisões, como a vegana, a lacto-vegetariana, a ovo-lacto-vegetariana, a ovo-vegetariana, a crudívora e a frugívora.
Segundo o coordenador jurídico da SVB, Ulisses Borges, em 2013, de 8% a 9% dos brasileiros se declaram vegetarianos ao Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE). Dados do Instituto Ipsos -empresa de pesquisa e de inteligência de mercado – reforçam que 28% dos brasileiros têm procurado comer menos carne. Ele destaca que há valores éticos e filosóficos tanto para fundamentar a dieta vegetariana quanto para uma não vegetariana.
O crescimento desses tipos de dieta no Brasil acompanha uma tendência mundial. Segundo a SVB, na Europa, por exemplo, 14% de todos os novos produtos lançados em 2015 são vegetarianos ou veganos. De 2013 a 2015, o lançamento de produtos veganos cresceu 150% no continente. Nos supermercados brasileiros também já é possível encontrar muitas versões veganas de produtos cárneos ou lácteos, como nuggets, presuntos, quibes, coxinhas, salsichas, linguiças, sorvetes e requeijões.
Borges explica que o tema tem entrado na agenda de debates sociais. A primeira tese de doutorado já apontava a inviabilidade de se acabar com a fome no mundo por meio da carne. “No século 19, uma inglesa queria fazer medicina, a Universidade de Londres não a aceitou, porque era mulher. Ela foi admitida em uma universidade na França como a primeira mulher a fazer medicina. Foi na Universidade de Sorbonne que ela se doutorou com uma tese sobre vegetarianismo”, conta. Ele explica, ainda, que recentemente a ciência evoluiu para um conceito de que os animais são seres sencientes, seres que têm uma consciência menor do que a humana, mas interagem com o meio.
População
Os últimos dados divulgados sobre a população vegetariana no Brasil, de 2012, mostram que a porcentagem de homens e de mulheres nessa situação no Brasil é a mesma: 8%. O índice se altera conforme a idade, aumentando entre as pessoas de 65 a 75 anos. Nesse grupo, o percentual chega a 10%. Já entre os jovens de 20 a 24 anos, o percentual é ligeiramente menor (7%), assim como entre homens e mulheres de 35 a 44 anos.
A cidade onde encontramos mais vegetarianos é Fortaleza, no Ceará, onde cerca de 14% da população afirmou ser vegetariana, maior percentual entres as capitais e regiões metropolitanas pesquisadas. Em seguida, vem Curitiba, no Paraná, com 11% de seus moradores adeptos ao vegetarianismo. Já Brasília, Recife e Rio de Janeiro têm 10% da população vegetariana. Em Belo Horizonte, o percentual é de 9%.
Um levantamento vegano não oficial é o Mapa Veg – projeto iniciado em Brasília com o objetivo de receber cadastros de vegetarianos do Brasil todo. Mais de 5 mil pessoas já se cadastraram. O site da SVB também reúne dados sobre o vegetarianismo e o veganismo no mundo. No Canadá, por exemplo, 33% da população ou é vegetariana ou tem procurado reduzir o consumo de produtos de origem animal, segundo a Vancouver Humane Society. De acordo com a pesquisa, 8% da população canadense se identificam como vegetariana e 25% alegam que busca consumir menos carne.
Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 5% das pessoas sejam veganas, vegetarianas ou adotem uma dieta mais baseada em peixes e frutos do mar. Os dados de 2015 são do instituto independente Chatam House – Royal Institute of International Affairs, de Londres.
Nos EUA, cerca de 50% dos vegetarianos, aproximadamente16 milhões de pessoas, se declararam veganos em pesquisa recente do Instituto Harris Interactive. No Reino Unido, cerca de 33% dos vegetarianos se declararam veganos, segundo o Ipsos MORI Institute. Não há dados oficiais no Brasil sobre o número de veganos.
Nutrição
De acordo com a nutricionista Shila Minari, o termo vegetariano, por si só, designa o indivíduo que não consome carne, mas existem variações na dieta. “A gente pode ter o vegetariano estrito, que não come nada, nem derivados, o ovo-lacto-vegetariano, que ainda consome ovos e laticínios e a gente tem os veganos, que não consomem nenhum tipo de alimento ou aditivo de origem animal. Os veganos também não consomem produtos como roupas, acessórios, cosméticos, feitos com substâncias de origem animal ou testados em animais”, explica.
Sobre os aspectos nutricionais da dieta, Shila explica que os vegetarianos podem ter uma alimentação balanceada e saudável. “Do mesmo jeito que uma pessoa que come carne pode fazer escolhas alimentares erradas e ter problemas, pessoas vegetarianas também podem ter problemas”, alerta. A nutricionista aconselha a inclusão de leguminosas e fontes de proteína não animal na alimentação, inclusive suplementos quando necessário. “Quem come carne acha que, de uma forma geral, está suprindo todas as necessidades comendo carne e quem é vegetariano se preocupa mais em tentar incluir vegetais na alimentação e só isso já deixa a alimentação mais saudável e equilibrada.”
A nutricionista explica que suplementos de vitamina B12 muitas vezes são necessários para os vegetarianos. Esta é a única vitamina que não se consegue suprir com esse tipo de alimentação.
Para ter uma dieta balanceada e não compensar a falta de proteína animal com outros alimentos pobres em nutrientes, Shila aconselha acompanhamento profissional. “É importante que quem vá começar uma dieta vegetariana faça acompanhamento nutricional.”
A dieta vegetariana existe em diversas formas, confira abaixo:
Não ingerem nenhum tipo de carne (nem frango, peixe ou frutos do mar), mas consomem laticínios e ovos. Esse tipo de vegetarianismo é o mais comum.
Além de não ingerir nenhum tipo de carne – como os ovolactovegetarianos -, os lactovegetarianos excluem os ovos da dieta. É o tipo de vegetarianismo predominante em países como a Índia, de acordo com a SVB.
Não ingerem nenhum tipo de carne, laticínios ou ovos.
Criado em 1944, na Inglaterra, por Donald Watson, o movimento vegan, ou vegano, vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade brasileira. Por motivações éticas, os veganos não consomem nada de origem animal em nenhuma área de suas vidas. Alimentação, vestuário, espetáculos ou qualquer outro tipo de atividade que envolva sofrimento animal é excluída da vida de uma pessoa vegana. O veganismo é uma postura política e não uma dieta. No Brasil, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) é entidade responsável pela certificação de produtos veganos. O selo é entregue após análise rigorosa da cadeia produtiva.
Outros tipos
Existem outros vocábulos como “semivegetarianos” e “pescovegetarianos”, que não são reconhecidos como termos vegetarianos. Entre os veganos, existem ainda os “frugívoros”, que só se alimentam de frutos. Outro grupo de vegetarianos é o “crudívoro”, que só ingere alimentos crus, muitas vezes, germinados. Os crudívoros não são, necessariamente, veganos. A motivação mais comum entre os crudívoros é a saúde e não é raro encontrar crudívoros que consumam mel e outros produtos de origem animal. Existem também os “ovovegetarianos”, que não ingerem nenhum tipo de carne nem laticínios, mas consomem ovos e derivados.
Segundo a nutricionista, as dietas vegetarianas adequadamente planejadas, incluindo as dietas totalmente vegetarianas ou veganas, são saudáveis, nutricionalmente adequadas e podem proporcionar benefícios para a saúde na prevenção e no tratamento de certas doenças. As dietas vegetarianas bem planejadas são apropriadas para todas as etapas do ciclo vital, incluindo a gravidez, a lactação, a infância e a adolescência, assim como para os atletas. |
Impacto
Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, analisam o impacto de mudanças alimentares na saúde e no meio ambiente se a humanidade adotasse uma alimentação sem produtos de origem animal. Os resultados do estudo foram publicados na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. Quatro tipos de dieta foram estudados: uma com hábitos comuns de consumo, a dieta onívora recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a vegetariana e a vegana.
A pesquisa aponta que com a dieta vegetariana as emissões ligadas à produção de alimentos cairiam 60%. Caso o mundo todo se tornasse vegano (livre de qualquer produto de origem animal), a porcentagem aumentaria para 70%. Uma menor queda, de 29%, é observada na dieta onívora recomendada pela OMS.
Para além do prato, veganismo movimenta a economia em diversas áreas
A Sociedade Brasileira de Vegetarianismo (SBV) criou um selo para certificar os produtos veganos vendidos nos supermercados do país. Hoje já existem mais de 230 produtos certificados de 27 empresas diferentes à venda no país.
O veganismo se baseia na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, feita pela Unesco nos anos 70, condenando o abuso e exploração de quaisquer produtos que tenham origem animal. Eles não consomem roupas e acessórios de couro, pele, lã, seda, por exemplo. Além dos veganos não consumirem alimentos de origem animal, eles não usam nada proveniente ou testado nos bichos.
Os produtos veganos têm ganhado força nos mais diversos setores, como cosmético, alimentício, produtos de limpeza, produtos para pets e até matérias-primas, como é o caso de uma marca brasileira que usa a mandioca para substituir o plástico, totalmente eco-friendly: a CBPak, situada no estado de São Paulo. A empresa aproveita amido de mandioca para criar copos e bandejas de plástico.
Para ser ética com os animais e com o meio ambiente, uma marca vegana ou eco-friendly precisa verificar se toda a cadeia produtiva está de acordo com seus princípios. Dentro desta categoria chamada de moda ética, os tecidos de fibras naturais, como o de bambu, acabam ganhando espaço no mercado. Outra estratégia usada pelas marcas veganas é a pegada artesanal, sem fabricação em grande escala.
Vestuário
Bárbara Mattivy, uma das sócias-fundadoras da marca de sapatos veganos Insecta Shoes, explica que a marca reutiliza roupas garimpadas em brechós ou tecidos ecológicos à base de garrafa pet reciclada. No último ano, a marca reaproveitou 627 peças de roupas, 79 metros de tecidos antigos e 2892 garrafas pet. Além disso, a empresa recicla o próprio excedente de produção.
Ela conta que a Insecta Shoes já nasceu com o DNA sustentável. Os primeiros sapatos foram produzidos a partir da parceria com um brechó chamado Urban Vintagers e com uma marca de sapatos, a Mag-P Shoes, usando tecido reciclado e excedentes da indústria de calçados. “Decidimos criar uma marca que representasse esse novo conceito. À medida que fomos estudando e entendendo melhor a cadeia produtiva da moda, descobrimos o impacto imenso que ela causa do meio ambiente, sendo a segunda indústria mais poluente do mundo. A partir desse momento, não só intensificamos nosso trabalho de sustentabilidade, como entendemos a importância de disseminar essa informação para que, cada vez mais, outras marcas trabalhem em favor do meio ambiente.”
Sobre as dificuldades de ser vegano, ela acredita que cada vez existem menos desafios. “É um mercado em constante crescimento, e hoje se consegue encontrar opções veganas em muitos lugares, inclusive já existem restaurantes superespecializados, por exemplo, sorveterias e ‘açougues’. Eu, particularmente, não acho difícil, desde que você queira e esteja disposto a fazer o esforço necessário e pesquisar bastante”, conta a sócia da Insecta.
“Açougue”
Outra iniciativa que tem chamado a atenção é a do Açougue Vegano, no Rio de Janeiro, idealizado pelos chefs Celso Fortes e Michele Fernandez. Ele foi o primeiro açougue deste tipo a ser inaugurado no Brasil. O chef Celso Fortes explica que o projeto com a promessa de oferecer iguarias tão saborosas quanto os tradicionais itens da dieta carnívora foi montado em cerca de 45 dias. “O primeiro dia de trabalho foi exaustivo, afinal vendemos todo o estoque que havíamos preparado para um mês. Em apenas dez horas conseguimos liquidar 1.100 coxinhas de jaca, centenas de hambúrgueres de shimeji e shitake, espetinhos de soja, entre outras iguarias” relembra Fortes.
Quanto à segmentação do negócio, Fortes afirma que o público vegano tem um engajamento muito diferenciado em relação ao assunto. “Não é apenas uma escolha culinária, se trata de um estilo de vida.”
Aplicativos ajudam vegetarianos
Se você é vegetariano ou vegano ou se interessou em experimentar esses estilos de vida, há aplicativos que podem ajudar com receitas ou indicações de locais para comer fora de casa:
Guia Restaurantes Vegetarianos
O aplicativo mostra mais de 230 opções de restaurantes em todo país e está disponível para iOS e Android.
HappyCow
Um dos mais conhecidos entre os adeptos do vegetarianismo é o app HappyCow. Além de oferecer opções de restaurantes veganos e vegetarianos, indica lojas que vendem produtos especializados. O app é em inglês, mas tem locais de todo o mundo cadastrados.
Be veg
Este é mais um app que indica opções de lanchonetes e restaurantes vegetarianos e veganos em diversos locais do país, com versões para iOS e Android.
Eat Vegan
O aplicativo traz deliciosas receitas separadas por pratos: saladas, prato principal, sobremesa, café da manhã. Algumas receitas são pagas, mas há opções gratuitas. O idioma do app é inglês, mas dá para copiar a receita e traduzir no Google Tradutor.
21 Vegan Kickstart
Este é para quem está querendo se tornar vegano ou vegetariano e não sabe por onde começar. Ele propõe refeições veganas completas (café da manhã, almoço, lanche e jantar) para 21 dias.
I’m hungry
O app reúne receitas de comidas vegetarianas, entre mediterrâneas, indianas, americanas, chinesas e japonesas. Ele é ótimo para quem está começando na cozinha vegetariana e não sabe como variar o cardápio.
Cruelty Free
Este aplicativo é voltado para o público vegano, em especial. O app mostra todas as empresas e produtos que fazem testes em animais antes de ficarem prontos.
Espinapp
No Espinapp, você encontra mais de 100 receitas com ingredientes, passo-a-passo e fotos.
Mapa Vista-se
Este não é um aplicativo, mas um site interativo, que permite aos usuários cadastrem estabelecimentos. http://www.vista-se.com.br/mapa/
Conheça histórias de pessoas que adotam esses tipos de alimentação
Victor Costa, ativista vegano
Victor Costa, ativista vegano, parou de comer carne depois dos 18 anos. Ele revela que se sentia incomodado com o sofrimento dos animais. “Lembro de um dia específico em que vi um porco sendo morto e chorei muito”, conta.
“Achei que ia me sentir restrito por causa das opções de comida e lazer. Mas foi libertador. O fato de eu consumir esses produtos sabendo que era errado me fazia um mal que eu não percebia”, comenta.
Em 2016, Victor decidiu que, além de parar de consumir produtos de origem animal, ajudaria outras pessoas que quisessem parar também e criou um canal no Youtube. “Se uma mora em uma cidade do interior e quer ser vegana, mas naquela cidade não vende nenhuma pasta de dente que não faz testes em animais, ela não vai ser menos vegana se comprar essa pasta de dente. É tudo na medida do possível e do praticável. O veganismo é baseado em razão e compaixão, não existem dogmas”, ressalta.
Patrícia Serejo, psicóloga
Patrícia Serejo começou um flerte com o vegetarianismo aos 15 anos. Segundo ela, inicialmente foi “um ato de rebeldia”.
“Foi uma trajetória de muitos anos. Minha decisão é de saúde e também de preocupação ambiental. Mas, a questão ética foi o que me mobilizou para deixar as últimas coisas”, explica.
Patrícia ainda consome leite e derivados. Mãe de três crianças, ela conta que em sua casa cada um é de um jeito. “Eu sou vegetariana, meu marido não. Meu filho de cinco anos também não é a minha filha de dois anos come pouca carne, porque a nossa opção no dia a dia é não oferecer. O meu caçulinha de cinco meses é vegetariano porque ele está em aleitamento materno exclusivo”, diz.
Para ela, a principal dificuldade de ser vegetariana é o aspecto social, já que o lazer está atrelado à oferta de comida, geralmente, baseada no consumo de carne e derivados. Outro desafio, com seu primeiro filho, foi quando o berçário onde iria matriculá-lo afirmou não aceitar a dieta vegetariana para a criança. “Partia-se do pressuposto de que carne é essencial para a alimentação, para o desenvolvimento. Era o pressuposto do estabelecimento e aí que cedi.”
Hoje, para fugir das críticas, Patrícia diz que não opina na alimentação dos outros e estabelece limites. “Nós ainda vivemos em uma cultura predominantemente carnívora, onívora, e chama muita atenção você ser vegetariana. Eu passei por três gestações e todo mundo achava que eu ia passar mal ou prejudicar os meus filhos em função do vegetarianismo”, revela.
Luísa Ferrari, Youtuber
A Youtuber Luísa Ferrari é vegetariana há cerca de quatro anos. Ela conta que sempre gostou muito de carne, mas de alguma forma se sentia mal comendo. Algum tempo depois, decidiu se tornar vegana e se engajar mais.
“Eu percebi que o ovo-lacto-vegetarianismo talvez não fosse mais o suficiente. Foi uma questão de ética com os animais, porque eu comecei a ver alguns vídeos no Youtube.”
Luísa começou a pesquisar sobre como a dieta ovo-lacto-vegetariana afeta os animais com a produção e retirada dos derivados. Ela acrescenta que o mais difícil em se adotar esse tipo de dieta restritiva é lidar com as pessoas. Em seu canal no Youtube, Luísa algumas vezes fala sobre o veganismo, sobre como é ser vegana. Um de seus vídeos mais acessados é o que mostra o que ela come em um dia.
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